O Brasil está mais triste. Mas não poderia ser muito diferente, concorda?

Reportagens Especiais
5 min readDec 23, 2020

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Layane Lima

Resolvemos escrever sobre felicidade e isso faz com que a gente pense um bocado na vida. Lembrei de imagens, comemorações, reuniões. Uma delas foi essa festinha de aniversário de cinco anos da minha irmã Williane, que atualmente tem 22.

Quis abrir a matéria com ela: é quase a antítese de um dos mais famosos memes que circularam nas redes este ano, não é? :)

Eu e minha irmã, o contrário desse meme aí embaixo que fez tanta gente este ano rir

Mas antes de falar de mim e das minhas amigas, quero trazer algumas impressões e apurações sobre essa danada da felicidade.

Tenho impressão que, nos últimos tempos, parece que ser feliz se tornou um pouco mais complicado: é preciso exibir uma “vida perfeita” nas redes, algo que traga rentabilidade, seja em dinheiro, views, seguidores ou likes.

Assim, enquanto elemento de distinção capitalizável, a felicidade vai sendo medida também pelo mercado: o Instituto de pesquisa Ipsos avaliou o nível desse sentimento na população de 28 países através do Global Happiness Study ou Estudo Global da Felicidade.

De acordo com o Ipsos, cresceu o número de brasileiras e brasileiros que não se julgam felizes. Em um dos países campeões de desigualdade social no mundo, não há mesmo como ser

Segundo eles, os brasileiros e as brasileiras estão menos felizes a cada ano. Aqui, quatro entre dez pessoas entrevistadas não se consideram felizes — em outras palavras, 39% não se julga feliz. O índice está 12 pontos abaixo do registrado na penúltima edição da pesquisa em 2018, quando o resultado foi de 73%.

Globalmente, o índice também caiu de 70% para 64%. Para Marcos Calliari, CEO da Ipsos aqui no Brasil, embora esteja na média global, o número caiu muito em relação a 2018. “Isso mostra que algumas questões já preocupavam o brasileiro ficaram ainda mais acentuadas e também que a melhora na economia, aguardada com o início do novo governo, não se concretizou. A preocupação com desemprego, por exemplo, continua muito alta no Brasil e com tendência de prosseguir”, conta.

A Organização das Nações Unidas (ONU) realiza todos os anos o ranking dos países mais felizes do mundo. A pesquisa é avaliada através dos seguintes quesitos: qualidade de vida da população, renda, expectativa de vida, confiança, suporte social, liberdade de expressão e o relacionamento entre os habitantes com o governo, nativos e imigrantes.

Estamos bem longe de conseguir a primeira classificação mundial: a ONU constatou que, dentre 156 países pesquisados, o Brasil está no 4º lugar a nível regional (America Latina) e em 32º no global dos países mais felizes. Essa disparidade no ranking em relação aos dez primeiros países se dá por fatores estruturais como o baixo nível de renda e a expectativa de vida dos brasileiros.

O que faz Marta feliz — o casamento com Gabriel — também a entristece por um aspecto: vai mudar de cidade e não ver mais, diariamente, os pais

Pensando justamente nisso, conversei com Marta e Samara, duas garotas que possuem realidades distintas, que vivem em cidades diferentes, exercem profissões diferentes e, no momento, possuem planejamentos de vida opostos. Marta Morais, 19, mora em Lagoa dos Gatos, a 132 quilômetros de Recife. É atendente de caixa em uma sapataria da cidade e vai se casar no próximo mês com Gabriel. Com ele, vai se mudar para Jurema, a 41,7 quilômetros de Lagoa dos Gatos.

Para Marta, ser feliz é estar perto de quem ama. "Mas, na busca pela felicidade, às vezes abrimos mão de quem amamos." Ela sempre foi muito apegada aos pais e casar, me diz, a fará mais feliz. Mas a distância da família, admite, a incomoda.

“A partir do dia que eu disser sim para Gabriel, eu estarei me afastando de certa maneira dos meus pais. O casamento é algo que vai me trazer muita felicidade, mas por outro lado é algo que vai me deixar bastante triste por me afastar da convivência deles. Passei cinco meses na Argentina e já senti uma dor enorme em não poder estar com eles todos os dias. Mas ali eu tinha a certeza que eu iria voltar pra casa logo. Agora. eu sei que é algo diferente”.

Samara Mirelle, 20, é graduanda em Medicina Veterinária. A estudante mora em Cupira, a 167 quilômetros do Recife, e acredita que a felicidade é dividida "em setores". ”Para mim, felicidade é estar bem com Deus, ter saúde, estar com quem a gente gosta. Felicidade é ter realizações e ver as pessoas que amamos alcançando sonhos. É também quando eu chego em casa depois de um dia cansado e dou um monte de cheiro nos meus gatos.”

A profissão que ela escolheu é outra fonte de felicidade. “Eu sou uma pessoa muito feliz no meu curso, a melhor coisa que eu escolhi fazer na minha vida. Foi uma surpresa, de repente eu pensei em veterinária e me matriculei. Não pensava muito nisso. Hoje, eu estou amando e acho que vou ser muito realizada no futuro, pois estarei fazendo o que eu gosto. Juntando o amor e a gente trabalhando no que nos faz feliz, as coisa só podem dar certo”.

A criança de vermelho sou eu, 4 anos, ao lado da minha irmã Lili, 5. Este é um dos poucos registros que tenho guardado de uma das fases mais felizes da minha vida.

Escutando as duas, fiquei pensando no quanto ser feliz é um estado que depende de nós mesmos — mas também do mundo que nos cerca. É aí que mora a inexistência de uma única fórmula da felicidade. É claro que conquistar bens, atingir metas, nos traz a boa sensação de alegria, mas isso não passa de uma falsa e passageira “felicidade”, pois precisamos repetir tal experiência para suprir as nossas necessidades, e que ainda assim não preenche o que só a felicidade plena pode trazer.

E esta sou eu, Layane. Desejando felicidade para mim — e para vocês também

Para mim, felicidade é valor, é aquilo que não pode ser precificado em tabela, é sentir a presença de Deus. Muito mais valioso que a realização dos meus sonhos, são os momentos que passo em família-principalmente aos domingos, quando ela está completa-, são as gargalhadas nos passeios com meus amigos, e as experiências que passo com todos eles, felicidade tem um significado singular para cada pessoa, acredito que ela seja adaptada com a realidade de cada um.

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projeto de extensão do Observatório da Vida Agreste (OVA), Curso de Comunicação Social da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste (CAA)