A psicologia, a filosofia, as universidades: todo mundo atrás da tal felicidade

Reportagens Especiais
4 min readDec 23, 2020

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Maria Souza

A busca pela felicidade perpassa os diferentes períodos e estágios da humanidade — é ela que nos motiva a trabalhar, estudar, fazer planos, realizar sonhos e nos encoraja a viver. É a felicidade ou a busca por ela, que nos convence diariamente que cada uma dessas coisas é possível e nos dá “fôlego” para lutar por ela. O tema é recorrente em estudos das ciências humanas, que buscam incessantemente desvendar as naturezas desse sentimento tão subjetivo e particular.

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A psicologia interpreta a felicidade como a combinação de satisfação que uma pessoa tem com sua vida, ser feliz significa então estar em um estado de bem-estar composto por emoções positivas, da alegria ao prazer. Na perspectiva da saúde mental, a felicidade pode ser definida como um estado duradouro e combinado de ausência de emoções negativas, presença de emoções positivas e satisfação com a vida.

O psicólogo Alan Rocha explica que a felicidade foi objeto de estudo por muito tempo de várias ciências como psicologia, filosofia, sociologia, mas que ainda hoje não há uma exata definição do que seja felicidade, por se tratar de um sentimento particular a cada um. “Apesar de não existir um consenso exato, por se tratar de um sentimento subjetivo, pessoal, intransferível e singular, a felicidade pode ser compreendida como um estado mental caracterizado por uma série de fatores que, em conjunto produzem a sensação de prazer e satisfação”, explica.

Para a filosofia, a felicidade deve ser compreendida como um estado durável de plenitude, satisfação, equilíbrio físico e psíquico. Diversos filósofos debruçaram-se sobre o tema para entender quais as circunstâncias que levam ao homem, ser um sujeito feliz. O professor Eduardo Cesar Maia, da Universidade Federal de Pernambuco/Campus Agreste, explica que a felicidade é um conceito histórico, humano, e por isso varia de acordo com as diferentes culturas e povos.

“A concepção individual de uma vida feliz, não é necessariamente igual para todo mundo. Isso é uma marca da nossa humanidade, marca da nossa condição enquanto pessoas diferentes”.

O professor pondera que a filosofia pode nos ajudar justamente mostrando a complexidade da dimensão existencial da vida humana. “Não é uma questão religiosa, somente. É buscar entender a felicidade como algo pertencente ao plano existencial concreto das pessoas”. Ele cita como exemplo a filosofia ensaística: “ela apresenta mais exemplos e narrativas, se difere daquelas que já apresentam conceitos prontos”.

O professor Bruno Severo aprovou uma ementa importantíssima na UFPE: o estudo da felicidade

Essa busca incessante que passa pela filosofia, teologia, sociologia, antropologia, psicologia e tantas outras ciências levou à criação, em 2018, de uma disciplina na UFPE. A universidade é uma das primeiras instituições do Brasil a oferecer um curso com esse foco. O idealizador é o professor Bruno Severo, coordenador do Núcleo de Atenção à Saúde do Estudante (NASE) e docente do departamento de Micologia.

O professor ainda explica que o objetivo não é ensinar o aluno ser feliz, mas potencializar as emoções positivas com fundamento em pesquisas científicas. “A felicidade está nas coisas simples, na gratidão, na solidariedade, na cultura, na compaixão. Ela é vivenciada por meio da prática das boas virtudes. Está no ser e não pode ser medida pela quantidade de coisas que alguém possa ter”.

Curso procura despertar autoconhecimento, cuidado, solidariedade e respeito às diferenças

Lyvia Maria, 22 anos, estudante de fisioterapia, cursou a disciplina ano passado. Para ela, é necessário tratar de temas como esse no ambiente acadêmico. “A minha experiência em cursar a disciplina foi ótima. Quando me matriculei, nem imaginava como seria”. A estudante acredita que todos podem "aprender" sobre felicidade e entender como o corpo humano reage à mesma. “Começar a olhar mais para os acontecimentos bons do dia a dia pode nos ajudar. Aprender sobre empatia e humanização e também que ninguém está feliz o tempo todo. Isso é normal”.

Para a estudante Lyvia (blusa branca), felicidade se traduz em família reunida

Ok, agora vou falar de mim (não é fácil):

Acredito que felicidade seja algo tão pessoal, tão particular, que eu talvez não consiga descrevê-la propriamente — ou o espaço aqui é pequeno para o que tenho a falar.

Felicidade é poder lembrar de todos os momentos importantes da minha infância, coisas que aquecem o meu coração. Felicidade é ouvir Alceu Valença no último volume e não saber descrever a sensação. É ouvir e contar histórias de pessoas que tem muito para nos ensinar sobre empatia e compaixão. Está na taça de vinho (adoro) ou no livro. Na música ou no almoço de domingo na casa da mamãe. Nos planos que faço para o futuro.

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Para Mari, felicidade está no momento, ou na taça do espumante da época que podia aglomerar com a familia.
Esta sou eu, com saudade de um Natal passado quando todo mundo podia estar junto. Mas eu sei que esse tempo vai voltar

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projeto de extensão do Observatório da Vida Agreste (OVA), Curso de Comunicação Social da UFPE/Centro Acadêmico do Agreste (CAA)